A revolução não acontece quando a sociedade adota novos meios de produção, ela acontece quando a sociedade adota novos comportamentos.
Vivemos um momento de transformação. O surgimento da internet e a construção de uma rede global de conhecimento é um tema bastante esgarçado, mas com possibilidades ainda não compreendidas em sua plenitude por grande parte da sociedade, que, apesar de impactada diretamente, de sua rotina de trabalho a sua maneira de se relacionar, segue no olho de um furacão sem perceber a profundidade das mudanças que permeiam seu cotidiano.
Diante deste cenário, a comparação do momento de ruptura que presenciamos com a revolução industrial se torna natural. As mudanças nos meios de produção, comunicação e relacionamento sugeridas com o surgimento da industria já podiam ser sentidos no final do século XIX. A construção e o desenvolvimento de novas áreas da ciência, como a sociologia, e o aparecimento de reformas sociais que moldaram a sociedade como a conhecemos hoje, como a liberação feminista e a globalização, são resultados diretos da revolução impulcionada pela máquina a vapor, alimentada e remodelada pelo “Deus Mercado”.
Durante toda a história da humanidade, novas tecnologias moldaram a sociedade e ditaram padrões, sejam eles comportamentais, sociais ou econômicos. Antes da revolução industrial não tínhamos noções de linha de produção, mercado, bens de capital ou comunismo. Todos os fatores determinantes para a construção do cenário político-econômico do século XX, surgiram no final do século anterior.
Grande parte das referências que constroem nossa realidade e orienta nossas ações vem do mundo pós-industrial, da moda ao mercado de trabalho, que, motivados por razões econômicas, trouxeram a tona uma maior noção dos direitos humanos e da individualidade que simbolizam a sociedade hipermoderna que presenciamos.
Cada avanço tecnológico traz novas referências, novas perspectivas, formas de pensar, sentir e agir. Os saltos tecnológicos que marcam nossa maneira de se comunicar, que se iniciam nos primórdios da humanidade, com o surgimento da fala e da escrita, passam pela prensa de Guttemberg e evoluem até o surgimento do hipertexto, ajudam a registrar e dar continuidade ao espírito de cada época e a atribuir significado ao conjunto de valores sociais e culturais que marcam cada geração.
A singularidade de nosso tempo se concentra na maneira como passamos a enxergar a informação. O hipertexto não mudou somente a maneira como lidamos com conteúdo, ele é peça fundamental para as mudanças estruturais que observamos. A velocidade, tão característica de nossos dias, marca também o ritmo exponencial das mudanças sociais e culturais que permeiam nossa vida.
Este ritmo alucinante se torna tangível quando observamos que, a menos de quinze anos do surgimento da internet comercial no Brasil, funcionários de grandes empresas foram mandados para casa durante um “apagão” no sistema de uma das empresas de internet no final de 2008. Diante deste fato e transpondo este caso isolado para uma âmbito maior é possível projetar quantos modelos de negócios característicos de nosso tempo simplesmente deixariam de existir sem acesso a grande rede.
Trazendo esta questão para o cenário político um mais um marco histórico se apresenta diante de nós. A eleição de Barack Obama, rompeu padrões e estabeleceu uma nova forma de se pensar a política ao utilizar iniciativas “digitais”; focadas em nichos de interesses específicos, no processo eleitoral, se aproximando de maneira única e inédita de públicos até então não alcançados pelo debate político, como o público jovem. O resultado deste engajamento político e social refletiu diretamente nas urnas, que contabilizaram um recorde de eleitores.
A campanha, os debates no YouTube, o site de transição do presidente eleito e a proximidade do candidato com seu eleitorado são exemplos do impacto da web no sistema democrático como o conhecemos. Resta saber como tais ferramentas serão utilizadas no país que, surpreendentemente, passa mais horas por semana na internet e é uma das maiores democracias do mundo, o Brasil.
O impacto da internet na sociedade atual torna-se ainda mais pungente se analisarmos que o número de conexões irá dobrar nos próximos anos, atingindo dois bilhões de pessoas antes do final da próxima década e que, em menos de quinze anos, estima-se que quase a totalidade dos cidadãos de países desenvolvidos terão acesso a internet. Um número absoluto ainda maior de conexões virá de países emergentes, que, ainda assim, apresentarão um grande público potencial.
A cada novo link, assistimos a criação de um imenso sistema, um grande cérebro que ganha peso e complexidade em sua evolução, agregando cada vez mais conexões e exercendo uma infinidade de novas funções.
A internet se torna uma ferramenta que extrapola limites territoriais e aumenta o alcance e as possibilidades humanas, a luz do alvorecer de uma nova democracia, capaz de diminuir as desigualdades sociais e econômicas que marcaram o apogeu de grandes impérios de comunicação, apontando o surgimento da voz do povo como uma grande força de informação, uma nova variável cada vez mais presente em todos os níveis de uma tomada de decisão.
A era do conhecimento é marcada por ser extremamente democrática. Os espectadores são hoje também frentes de produção de conteúdo; os consumidores ferramentas importantíssimas de construção de imagem e da comunicação de qualquer marca; nunca foi tão fácil engajar participantes em causas antes desconhecidas. Em um mundo sedento por informação, a gestão do conhecimento é fundamental para a criação e a luta por um ideal, seja ele legítimo ou não.
Você apagou as luzes da sua casa na “erth hour” do último dia 28 de março? Se sua resposta for sim, acaba de acender uma luz sob a nova forma de engajar, mobilizar e vivenciar que a revolução da informação coloca sobre nós.
Site utilizado: http://www.b27.com.br/blog/?p=155
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